segunda-feira, 19 de março de 2012

Seminário é encerrado com um balanço da História da Educação


Em clima de emoção e descontração foi encerrado nesta quinta-feira, 15 de março, no Teatro Raul Cortez, o 8º Seminário Municipal da Educação, depois de três dias de palestras de escritores e professores consagrados. Durante o evento, foram apresentadas sugestões para uma nova visão do planeta através da educação, com o filósofo e ex-frei franciscano Leonardo Boff; que defende o aprendizado numa sociedade globalizada, bem como os professores Armando Valente, da Unicamp, e André Nunes de Azevedo, da UERJ; sobre as diferentes formas com que podemos educar os alunos, além da psicóloga, filósofa e psicanalista Viviane Mosé. A palestra de encerramento do evento ficou por conta do professor e escritor paulista Pedro Bandeira que, em tom de humor, falou sobre a criação da escola no Brasil.
 
Escritor posou para fotos com alunos da rede municipal que estiveram no evento
Nascido em Santos (SP), em 1942, Pedro Bandeira é formado em Ciências Sociais pela USP e autor de mais de 60 livros, entre os quais o infantil “O dinossauro que fazia au-au” e o infanto-juvenil “A droga da obediência”, além da série “Risos e rimas”, dirigido a crianças de 8 a 11 anos. Com “A droga da obediência”, o escritor conquistou o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro. Pouco antes da palestra de Bandeira, foi exibido um vídeo sobre o cotidiano das creches e escolas da rede, revelando também as atividades extras praticadas pelos alunos, como música, pinturas e outros trabalhos artesanais.
Alunas do Ciart entregam a Bandeira e gaiola com o canário personagem de livro
Em sua fala, a secretária de Educação, professora Roberta Barreto, lembrou que no mesmo momento o consagrado pianista Artur Moreira Lima iniciava uma apresentação gratuita na parte externa do teatro. “Este é um momento ímpar na história da cultura em nossa cidade, quando temos paralelamente um evento de música clássica e uma ação sobre educação e literatura”, observou Roberta. Ela falou, ainda, sobre as palavras dos palestrantes anteriores, quando Leonardo Boff destacou a importância de paz e união entre os povos, e sobre a observação de Viviane Mosé, de que o aluno precisa ler (ter conhecimento sobre) o mundo antes de aprender a ler. Roberta destacou que em Duque de Caxias o professor tem a melhor remuneração do Estado e das melhores do país.
Ao lado de Cristina e Alexandra, Roberta destacou a importância do Seminário
Logo no início de sua apresentação, Pedro Bandeira foi surpreendido com uma apresentação de alunas da Casa de Iniciação às Artes (Ciart), que dançaram o “Quebra Nózes”, uma delas saindo de uma enorme embalagem de presente para brindar o palestrante, que completou 70 anos no dia 9 de março. “Com um presente como este, eu gostaria de fazer 70 anos novamente, ainda mais com a interpretação destas lindas meninas”, agradeceu o escritor. Em seguida, ele recebeu o livro “O pequeno pode tudo”, que conta a história de um pardal, pássaro sem cores chamativas e que não se adaptou à floresta, preferindo viver na cidade. O livro, que recebeu novos textos de alunos e professores, foi entregue pela professora Hellenice Ferreira, da Equipe de Leitura da SME. “A obra foi reescrita pelos leitores, através de colagem de novos textos, e volta às mãos de seu autor”, explicou Hellenice.
A diretora Maria Amália, da E. M. Pq. Capivari, adorou o tema abrodado na palestra
Em seguida, Bandeira iniciou sua palestra falando sobre o surgimento da escola e da necessidade da educação dos povos. Ele lamentou que o Brasil figura numa das últimas posições no ranking dos países em que um adolescente conclui o ensino fundamental sem conseguir entender o que lê. Bandeira disse que isso ocorre porque, no Brasil, as escolas foram criadas para a elite. E fez uma comparação com o século XIX, quando países como Estados Unidos e Brasil começaram a se desenvolver. “O americano investiu na educação, mas o Brasil demorou a fazer isso, devido às muitas ditaduras que dominaram estas terras. Desde Dom Pedro, passando pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, ao regime militar, o Brasil viveu um período muito pequeno de democracia. Já nos Estados Unidos, logo após a guerra civil, foi criada a democracia que dura até hoje”, comparou.
Pedro Bandeira e Roberta Barreto, após o encerramento do Seminário
Bandeira lembrou, também, que o Brasil era a fonte de riquezas dos países europeus, com o açúcar da cana e as pedras preciosas de Diamentina (MG), então conhecida como Arraial do Tijuco. “Somente com os diamantes levados daqui, o Marquês do Pombal reergueu Lisboa, após a cidade ser totalmente destruída por um terremoto. Já a população era considerada lixo, a escória, como os que vieram colonizar estas terras, os piores bandidos de Portugal”, observou.
Bandeira autografa livro para a professora Hellenice, da Sala de Leitura da SME
Segundo Bandeira, sendo considerada inferior, a população não precisava de escolas e educação, no entender dos governantes da época. “Durante muito tempo não se falou português no Brasil. A população, formada por índios, escravos e os filhos dos colonizadores com as índias e escravos, se comunicavam através da língua-geral, uma mistura de tupi-guarany. Não havia imprensa nem outras publicações e como leitura, apenas a Bíblia, que era lida pelos padres. Então, para que ensinar a ler, educar?”, perguntou.
Finalmente, uma foto com professores para lembrar que a educação é tudo
A escola, segundo o palestrante, só começou depois de mais de 300 anos de exploração de Portugal, mesmo assim para a elite, que somava 30% da população de então. Hoje, de acordo com Bandeira, apesar de a escola pública funcionar, ainda existem muitas dificuldades com alguns alunos. “Aqueles estudantes dispersos, que têm problemas para aprender, são os que merecem mais atenção dos professores. São como os excluídos da época da colonização. E ainda temos o problema do salário do professor, que foi esmagado pelo sistema vigente no Brasil. Para vocês terem uma ideia, há 60 anos, um professor ganhava o mesmo que um juiz de direito”, concluiu e acrescentou que “atualmente paga-se mais a quem vai colocar nossos filhos na cadeia do que àqueles que pode prepará-los para ser um cidadão de bem”.


Texto: Nelson Soares
Fotos: Everton Barsan

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