sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

DRENAGEM URBANA PARTE 3.

ATENÇÃO!   O conteúdo deste post é meramente ilustrativo e contém dicas importantes de casos que necessitam do trabalho de especialistas como Engenheiros e Geólogos, assim como de casos em que se deve chamar o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil .


SARJETA



Sarjeta é aquela parte entre a guia e o leito carroçável por onde corre a água até chegar a uma boca de lobo.
Por ser o local destinado a conduzir as águas, a sarjeta deve ser confeccionada com material resistente e seu acabamento deve ser bem liso para facilitar o escoamento das águas.
É um erro grave, e isso costuma acontecer nas vias com pavimentação de blocos ou paralelepípedos não confeccionar a sarjeta. Os blocos de concreto ou pedras com suas arestas e outras irregularidades dificultam muito o escoamento das águas. Então a sarjeta deve ser construída, de preferência, com concreto, ser bem liso e ter a forma adequada para conduzir as águas, principalmente das chuvas.
Existem muitas maneiras de se construir a sarjeta mas o mais comum é empregar concreto fresco. Veja os detalhes construtivos:
A sarjeta deve ter uma inclinação transversal para acomodar a água da chuva. Quanto maior a inclinação e a largura da sarjeta maior será a capacidade de transportar água. Entretanto a inclinação não deve passar dos 25% pois resultará numa sarjeta muito inclinada podendo aferecer risco aos transeuntes.
Não há limites para a largura da sarjeta mas a largura mais utilizada é a de 30 centímetros. Larguras maiores oferecem uma capacidade maior de condução das águas, porém devemos lembrar que crianças e pessoas idosas têm dificuldade de passar por cima da sarjeta em dias de chuva. 
A espessura da sarjeta deve suportar com tranquilidade o peso de um caminhão carregado, visto que ao estacionar os veículos saem do leito carroçável e colocam as rodas sobre a sarjeta.
As dimensões habituais de um conjunto de guia e sarjeta são as seguintes:

Com essas dimensões, podemos calcular a capacidade máxima de escoamento sem transbordamento. Vamos calcular a vazão em duas situações: Primeiro em uma rua com pouca declividade, isto é, uma rua com declividade mínima e em segundo uma rua com grande declividade, isto é, 10%.
A fórmula que permite calcular a vazão numa sarjeta é a seguinte:
Q = 0,375 x I 1/2 x Z / n x Y8/3
onde:
I é a declividade longitudinal da rua;
Z é a tangente do ângulo que a sarjeta faz com a guia;
n é o Coeficiente de Manning para a rugosidade que no caso de sarjeta de concreto alisado à mão é 0,016;
Y é a altura da lâmina d´água.
1 - Declividade mínima.
Uma rua não pode ser totalmente horizontal pois não vai permitir o escoamento da água em dias de chuva. Além de permitir o escoamento, a declividade deve ser tal que a velocidade da água seja suficiente para carregar papeis, pequenos pedaços de madeira como palitos de sorvete e até graõs de terra e areia trazidos pelo vento.
A declividade que faz tudo isso é de 2%.
Entrando na fórmula com I = 0,02; Z = 0,3/0,075 = 4; n = 0,016 e Y = 0,075 teremos Q =13,2 litros/s
2 - Declividade de 10%
Entrando na fórmula com I = 0,1; Z = 4; n = 0,016 e Y = 0,075, teremos Q = 29,6 litros/segundo.

 BOCA DE LOBO

1 - TIPOS
Entende-se por Boca de Lobo o dispositivo instalado na via pública para promover a drenagem da águas da via. Veja uma foto de uma boca de lobo típica:
A foto da esquerda mostra uma boca de lobo de guia enquanto que a outra mostra uma boca de lobo de sarjeta.
A boca de lobo de guia é feita com um pré-moldado especial conhecido como Guia Chapéu:
A boca de lobo de sarjeta é feita com um pré-fundido de aço ou de concreto, podendo ser de simples encaixe ou com dobradiça:
As bocas de lobo devem propiciar segurança e bem estar dos veículos e transeuntes. Em dias de chuva, a água da chuva correndo pela superfície da rua forma uma enxurrada. Quando a enxurrada toma certo volume, pode acarretar riscos e inseguranças como a inundação de lojas, derrubar e arrastar uma pessoa e até dificuldades de atravessar uma rua.
A água da chuva deve escoar dentro da sarjeta para evitar situações de insegurança como as seguintes:
Bocas de Lobo estratégicamente instaladas irão promover a rápida drenagem da água da chuva para dentro da galeria de águas pluviais.
2 - DIMENSIONAMENTO:
Qual é a distância máxima entre uma boca de lobo e outra? Posso ter uma boca de lobo aqui e a outra somente daqui a 100 metros?
Depende da quantidade de água recolhida pela sarjeta.
Ruas estreitas e loteamento com padrão pequeno de lotes irá exigir poucas bocas de lobo, isto é, as bocas de lobo poderá ficar longe uma das outras.
Ruas largas e loteamento com padrão grande de lotes irá exigir muitas bocas de lobo e até agrupamento de bocas de lobo no formato duplo, triplo e até mais.
Em ruas muito íngremes que causam enxurradas de alta velocidade pode acontecer da água passar direto pela boca de lobo. Então nesses casos é possível se fazer um rebaixo na sarjeta para facilitar o desvio do fluxo hidráulico para dentro da boca de lobo. Em zonas urbanas devemos evitar esse tipo de rebaixo pois além da sarjeta já ter uma inclinação que oferece certo risco às pessoas, a confecção desse rebaixo irá criar um risco adicional aos transeuntes.
Veja uma caso de conjugação de uma boca de lobo de guia com uma boca de lobo de sarjeta:
3 - DIMENSÕES MÁXIMAS E MÍNIMA DAS ABERTURAS:
As aberturas das bocas de lobo e das grelhas não devem ultrapassar um certo limite pois cria riscos às pessoas. 
Imaginem uma situação em que uma criança seja, acidentalmente, arrastada pela enxurrada. Se a abertura da boca de lobo for maior que 20 centímetros irá permitir a passagem de uma criança.
Ao contrário, se a abertura for muito pequena, irá entupir com facilidade pois a rua tem todo tipo de detricos como pedaços de papel, embalagens, palito de sorvete e latas de refrigerantes.
A rede de águas pluviais deve ser dimensionada para permitir o transporte desses materiais pela água da chuva.
Uma lata de refrigerante tem um diâmetro de 7 cm, uma garrafa de vinho ou cerveja de 8 cm. Então a abertura mínima para uma boca de lobo deverá ser de 8,5 centímetros.
8,5 < H < 15 cm
Adotaremos, então uma medida média de H = 10 centímetros para a boca de lobo de guia.
No caso das grelhas, as restrições deverão ser maiores e uma boa medida é de 5 centímetros para evitar que uma criança enfie o pé e de no mínimo 3 centímetros para evitar que a grelha entupa à toa.
Adotaremos, então uma medida média de B = 4 centímetros.
4 - VAZÃO (quantidade de água que deve passar):
Vazão da boca de lobo pode ser determinada por fórmulas (mais complicado) ou por meio de nomogramas. No caso utilizamos o nomograma do DNIT contido no Manual de Drenagem de Rodovias:
A relação entre a lâmina d´água e a abertura da boca é de 7,5/10 = 0,75 e a abertura que adotamos é de 10 centímetros. Entrando no nomograma encontramos a vazão Q = 35 litros por segundo para a boca de lobo de guia.
Para as grelhas, devido à grande variedade de modelos existentes no comércio, recomendamos realizar um ensaio para determinar a vazão. Além do ensaio, não esquecer de aplicar um coeficiente de redução prevendo entupimento parcial de algumas aberturas.
De qualquer forma, adotaremos a vazão de Q = 15 litros por segundo para efeito de ilustração neste site.
5 - ONDE DEVEMOS COLOCAR AS BOCAS DE LOBO:
Veja algumas regras práticas para a localização das bocas de lobo.
1 - Ao final de um trecho de rua antes do cruzamento. As águas pluviais não devem cruzar a via transversal.
2 - Antes da faixa de travessia de pedestres. O pedestre ao atravessar a faixa de segurança não deve enfrentar enxurrada na sarjeta.
3 - Na parte mais baixa do quarteirão.
4 - Não permitir que a sarjeta receba mais água que sua capacidade.
Veja como fica um cruzamento a seco, sem valeta e sem enxurrada:
Para evitar que a vazão de água ultrapasse a capacidade da sarjeta, devemos levar em consideração a área de contribuição da chuva.
Em ruas do tipo Caso-A: Somente a rua e os imóveis da própria rua.
CASOTIPO DE BOCADISTÂNCIA MÁXIMA
1Boca de Guia SimplesUma boca a cada 18,1 metros
2Boca de Guia DuplaUm conjunto de Boca Dupla a cada 36,3 metros
3Boca Conjugada Um conjunto de Boca Conjugaa a cada 25,9 metros
4Duas Bocas ConjugadasUm conjunto de Bocas Conjugadas a cada 51,8 metros
Em ruas do tipo Caso-B: A rua e os imóveis da vizinhança à montante.
CASOTIPO DE BOCADISTÂNCIA MÁXIMA
1Boca de Guia SimplesUma boca a cada 10,2 metros
2Boca de Guia DuplaUm conjunto de Boca Dupla a cada 20,4 metros
2Boca de Guia TriplaUm conjunto de Boca Dupla a cada 30,6 metros
3Boca Conjugada Um conjunto de Boca Conjugaa a cada 14,6 metros
4Duas Bocas ConjugadasUm conjunto de Bocas Conjugadas a cada 29,2 metros
4Três Bocas ConjugadasUm conjunto de Bocas Conjugadas a cada 43,8 metros
Boca de Guia SimplesBoca de Guia DuplaBoca ConjugadaDubas Bocas Conjugadas
NOTA IMPORTANTE:
Não se assuste com os números apresentados. Ao verificar a distância existente entre as bocas de lobo de sua rua, você verá que os números aqui apresentados são bem menores do que os que você poderá constatar na rua onde você mora ou daquele limite de 60 metros fixado nas Diretrizes Básicas para Projetos de Drenagem Urbana no Município de São Paulo. É que o projeto da rede de drenagem da sua rua e as Diretrizes foram feitos numa época em que não havia a grande contribuição dos gases de efeito estufa como na atualidade. Lembre-se que acrescentamos 20% à vazão de projeto por conta do aquecimento global.
Se você vai projetar uma rede de drenagem nova, não se esqueça de majorar a vazão de projeto com um percentual bem maior que o 20% que adotamos aqui, pois a COPE-15 resultou em grande fracasso nas negociações e não houve acordo com relação a um número mínimo de redução de emissão de gases que contribuem com o efeito estufa de modo que aquele limite de no máximo 2% de aumento da temperatura média da terra não será, com certeza, atendido.
Existe também uma pesquisa em desenvolvimento na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo de criar um asfalto permeável. Com ele não haveria necessidade de bocas de lobo pois toda água da chuva seria rapidamente transferida pelo pavimento para a rede de drenagem como se fosse uma peneira.
6 - BOCA DE LOBO EM VIADUTOS, PONTES E ESTRADAS
Por incrível que pareça, o local menos provável de ocorrer uma enchente seria em cima de um viaduto, mas isso costuma acontecer.

Depois do carnaval continuaremos com esta matéria. Bom feriado e cuidado nas estradas.

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